Saiba quem é a primeira paciente a morrer de dengue em 2025 no Piauí

 Foto: Arquivo Pessoal

Atualizada às 11h49

A estudante Isabelle Felix Evangelista, 12 anosprimeira vítima fatal da dengue no Piauí este ano, era natural da cidade de Nazaré do Piauí, distante 270 quilômetros de Teresina. Ela fazia tratamento para a anemia falciforme, desde um ano de vida, e segundo a família seu quadro de saúde era estável.

Isabelle realizava exames períodicos para controlar a doença, que tem origem genética e altera os glóbulos vermelhos do sangue, tornando-os rígidos e deformados, em forma de foice, o que causa anemia, dor, lesões orgânicas e outras complicações. 

"No dia 27 de janeiro eu fiz exame para saber como estavam as taxas dela. As taxas estavam todas ótimas. Ela estava bem", disse a mãe de Isabelle, Luciana Félix.

Há cerca de dois anos, a adolescente fez uma cirurgia para melhorar o seu quadro de saúde. Isabelle extraiu o baço. A retirada do órgão é feita quando outros tratamentos realizados para tratar a anemia falciforme não surtem efeito.

"Depois da cirurgia ela não precisava mais de transfusão de sangue. Estava se alimentando bem e ganhando peso. Há dois anos ela pesava 18 quilos, agora ela estava com 34 quilos. Da anemia ela estava bem, o que agravou a saúde dela foi a dengue", afirma.

A família tinha alguns cuidados com relação à saúde de Isabelle. Ela precisava de uma alimentação equilibrada e não podia se expor ao sol.

"Ela vivia uma vida normal, estudava, brincava, tinha muitas amiguinhas", lamenta a mãe.

Suspeita de dengue

Isabelle começou a sentir os primeiros sintomas da dengue cerca de oito dias antes de falecer. No dia 22 de fevereiro ela sentiu dor de cabeça, teve febre alta e foi levada pela família para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Nazaré do Piauí.

"Ela foi tratada com soro e remédio para dor e voltamos para casa. Fomos orientados a administrar paracetamol e dipirona se ela sentisse dor ou febre", disse a mãe.

A adolescente foi tratada em casa nos dias, 23, 24 e 25 de fevereiro. Na quarta-feira (26) de fevereiro ela sentiu dor abdominal e voltou a apresentar febre.

"Na quarta-feira dei entrada com ela no hospital de Nazaré com dor abdominal e febre. O médico pediu o teste rápido da dengue e hemograma. Fizemos aqui, numa clínica particular. O resultado deu positivo para dengue e que as taxas do hemograma estavam baixas e que ela precisava de transfusão de sangue", relembrou.

Morte na UPA

A paciente foi transferida para a UPA de Floriano onde foi atendida pela equipe médica, que receitou remédio para febre e deu alta para a paciente. A família chegou em casa por volta da meia-noite. Por meio de nota, a UPA disse que prestou toda a assistência necessária à paciente, seguindo os protocolos médicos indicados para o caso.

No dia seguinte, na quinta-feira (27), Isabelle voltou a sentir dores, desta vez na região lombar. Segundo a família, ela sentiu essa dor até o momento de sua morte.

"Voltamos para a UPA de Floriano e foi receitado tramal, morfina e dipirona e ficamos na enfermaria sem visita médica, só assistidos por enfermeiros e estagiários. A dor não passava. Por volta das 9h ela urinou sangue. Fui orientada a colher para que fosse realizado exame. Às 10h ela foi levada para a sala vermelha, onde ela convulsionou e morreu. Às 13h ele me entregaram o corpo da minha filha e disseram que ela morreu por conta da anemia falciforme e da arbovirose", relatou a mãe.

Luciana relatou que pediu que a filha fosse transferida para o Hospital Regional Tibério Nunes, mas foi informada que a adolescente poderia ser tratada na UPA. A mãe disse, ainda, que questionou a equipe sobre a transfusão de sangue, que havia sido indicada no dia anterior, na quarta-feira, quando Isabelle fez o hemograma, mas a equipe médica não soube explicar porque o procedimento não foi realizado.

Isabelle não foi vacinada contra a doença. A informação foi confirmada pela mãe dela, Luciana Félix. A vacina para a dengue foi disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para adolescentes com idades entre 10 e 14 anos. O Piauí recebeu as primeiras doses da vacina em abril de 2024 e o último lote em janeiro de 2025.

"Ela não foi vacinada contra a dengue. Não tivemos acesso à vacina aqui no município e para vacinar em Teresina era preciso fazer uma consulta com a hematologista dela no Hospital Infantil Lucídio Portela. O que não foi possível. Essa consulta estava atrasada desde novembro que eu não conseguia consulta no sistema daqui da minha cidade", afirmou Luciana.

Confira a nota encaminhada pela UPA de Floriano à TV Cidade Verde.

NOTA DE ESCLARECIMENTO

A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Floriano esclarece que prestou toda a assistência necessária à paciente, seguindo os protocolos médicos indicados para o caso.

Por ser portadora de anemia falciforme, foi indicada uma transfusão de sangue. A UPA acionou o Hemocentro de Floriano, que não poupou esforços para encontrar uma bolsa compatível, já que, devido à doença, não é indicado qualquer bolsa de sangue. O teste de compatibilidade, obrigatório nesse processo, foi realizado em tempo recorde. No entanto, quando a bolsa compatível foi identificada e enviada à UPA, a paciente já havia falecido.

A equipe médica adotou todas as medidas possíveis para estabilizá-la, mas, apesar dos esforços, não foi possível reverter o quadro. A UPA e o Hemopi se solidarizam com a família e reafirmam seu compromisso com a prestação de um atendimento humanizado e de qualidade à população.

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